sexta-feira, 13 de abril de 2012

ENTREVISTA

Boa noite leitores, irei redigir abaixo a entrevista feita com a Dra. Maria do Rosário Nogueira Rivelli, médica psiquiatra pós-graduada em saúde pública pela UFJF. Deixo claro que, para os efeitos acadêmicos serem alcançados, a entrevista foi editada. Para referir-me ao entrevistador, usarei a abreviatura ESDHC, e à entrevistada, Dra. Rivelli.

ESDHC: Doutora, o que a levou a se especializar num assunto ao mesmo tempo tão amplo e delicado?
Dra Rivelli: Achei que era importante desvendar a saúde pública do ponto de vista médico, entender o porquê de tantas ineficiências dos governos, já que na época o Brasil estava passando por uma importante transição e a política e a economia eram os únicos assuntos focados.
ESDHC: E foi possível perceber essas ineficiências?
Dra Rivelli: Sem dúvidas, as falhas do sistema hospitalar, a falta de compromisso dos governantes, a luta diária dos enfermeiros, médicos, motoristas, seguranças, tudo isso fica evidente quando participamos efetivamente. 
ESDHC: Há quanto tempo a senhora é funcionária pública?
Dra Rivelli: Este ano completam 26 anos que trabalho para a FHEMIG (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais)
ESDCH: Às vezes não da vontade de largar tudo e ficar apenas com o consultório particular? A remuneração é bem melhor né?
Dra Rivelli: Com certeza as vezes dá essa vontade, sem contar o salário que não é digno de nenhuma profissão, há também alguns benefícios de tempo de trabalho e duplicação para toda a área da saúde que até hoje eu não recebi, e não há vestígios de que irei receber. Mas eu não trabalho com saúde pública e mental pelo dinheiro, se eu me importasse com isso teria feito direito (risos), eu sinto que preciso estar ali sabe, é uma coisa maior que eu ou você, as pessoas precisam que se importem com elas, e eu me importo com elas.
ESDHC: Já que a senhora tocou no assunto da saúde mental, vamos falar do hospital em que a senhora trabalha, se não me engano é no Hospital Galba Velloso, certo? Quais são as condições em que ele se apresenta?
Dra Rivelli: É lá sim que eu trabalho. E o HGV, como a maioria dos hospitais públicos de Minas Gerais, talvez tirando o João XXIII e o Raul Soares, e alguns no interior, está sobrevivendo apenas. Os leitos estão sendo fechados; faltam médicos; os plantões são desgastantes; o salário desanimador; os pacientes sujos, mal cuidados, agredidos, é tudo muito pesado de se ver.
ESDHC: Antes de trabalhar no HGV, a senhora já teve experiência em outros lugares?
Dra Rivelli: Eu trabalhei muitos anos na Colônia Santa Isabel, em Betim, que antigamente era um sanatório, e hoje virou um manicômio, e no CAPS em Brumadinho.
ESDHC: E as condições são as mesmas do hospital?
Dra Rivelli: A Colônia era um lugar bem degradante também, mal cuidado, pouco valorizado. Acho que quando se trata de hansenianos, as pessoas são bem receosas, e até um pouco preconceituosas. Não há interesse em melhorar aquilo, em tratar dos doentes, e eles, mesmo insanos, percebem isso. O CAPS é totalmente diferente, não é um centro de internação, e sim de acompanhamento, os resultados, mesmo que mais demorados, são bem mais significativos. O paciente se sente em casa ali, e pelo menos na unidade em que trabalhei e nas que visitei, os profissionais gostavam do que faziam, o que facilitava muito, porque os pacientes se sentiam à vontade com eles, era um trabalho maravilhoso que eu adorava fazer.
ESDHC: A senhora prefere o tratamento do CAPS ao invés da internação?
Dra Rivelli: Olha, esse assunto é um pouco complexo, porque tem mais coisas envolvidas, eu sou a favor sim do CAPS, mas existem casos extremos em que a internação é crucial, porque é uma solução imediata para as chamadas "crises". 
ESDHC: Para finalizar, a senhora acredita que a saúde pública pode melhorar daqui a alguns anos ou isso é um sonho?
Dra Rivelli: Bom, um sonho é, mas que pode ser alcançado. Não cabe só aos profissionais da saúde, mas a maior parte depende do governo, e a falta de comprometimento deles é assustadora. Acho que já falei sobre isso, mas já teria que ter havido 3 duplicações de salário para os profissionais da saúde, e nenhuma saiu. Tem que gostar muito do que faz para aguentar as condições. Mas quem sabe daqui uns 10 anos a realidade da saúde pública no Brasil não seja diferente? A mim cabe apenas fazer meu trabalho bem feito, ao governo cabe as outras obrigações, e elas não vêm sendo cumpridas. 





Entrevista realizada no dia 13/03/2012

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